O que é a Ozonoterapia?
No fundo, a ozonoterapia consiste na introdução de ozono no corpo recorrendo a diversos métodos. É possível a mistura com outros gases ou líquidos antes da injeção e a sua via de administração inclui a administração endovenosa, intramuscular, subcutânea, vaginal e rectal.
Também é possível utilizar a ozonoterapia associada à auto-hemoterapia. O sangue é retirado, exposto ao ozono e reintroduzido novamente no doente.
O ozono começou a ser utilizado em 1856 para desinfectar salas de operação e esterilizar instrumentos cirúrgicos. No final do século XIX, começou a ser utilizado para desinfetar a água para consumo, tendo sido um tratamento amplamente usado e que continua a sê-lo nos dias de hoje. Em 1892, o The Lancet publicou um artigo descrevendo a administração de ozono como tratamento para a tuberculose. A descrição do tratamento é interessante, principalmente o grupo onde o tratamento era mais eficaz:
“Onde se mostrou mais bem-sucedido foi nas pessoas com menos de trinta e cinco anos de idade com hemoptise catarral ou onde a doença não passou muito para o segundo estágio, não estaria muito ativa e estava limitada a um único lobo pulmonar, ou, se em ambos os pulmões, estaria confinado a áreas comparativamente pequenas. Em todos os casos em que essas condições existiam, a melhoria era imediata e progressiva “.
Lendo esta descrição, podemos concluir que os doentes que à partida seriam os mais saudáveis e com doença mais leve foram os doentes que melhoraram…milagre!
Durante a primeira guerra mundial (1914-18) os médicos utilizaram o ozono devido às suas propriedades antibacterianas. Nos finais dos anos 80, começaram a surgir relatos de doentes com HIV que estavam a ser “curados” como a ozonoterapia aplicada à auto-hemoterapia. As autoridades canadianas autorizaram a realização de estudos para testar a segurança e eficácia do ozono nesta condição. E, de facto, nos testes laboratoriais a ozonoterapia mostrou resultados promissores. Era eficaz na desinfecção do sangue extra-corporal que estava infetado com HIV. No entanto, nos estudos clínicos, a ozonoterapia era ineficaz.
Isto é importante porquê? Porque existem dezenas, senão centenas de tratamentos que são promissores a nível laboratorial e não são eficazes em estudos clínicos. Ou seja, mostram grande potencial num tubo de ensaio, mas não a tratar doentes. Deste tipo de resultados laboratoriais temos assistido ao surgimento de vários tratamentos que se “vendem” como eficazes, mas que na realidade não o são.
Como é que funciona?
O ozono é dos elementos naturais com maior poder oxidativo, levando ao surgimento de radicais livres após a sua decomposição. Este radicais livres podem destruir substâncias biológicas, desde bactérias, vírus até às membranas celulares das células do nosso organismo.
Pensa-se que poderá ser este poder oxidativo que contribui para o surgimento de um efeito hormético. Um efeito hormético, de uma forma simples, significa que um determinado produto tem efeitos opostos em doses altas e em doses baixas. Pensa-se que em baixa dose, as agressões provocadas pelo ozono poderão preparar o corpo para quando surgirem agressões mais importantes, melhorando a sua resistência.
As vantagens atribuídas ao exercício físico e à restrição calórica poderão, em teoria, ser obtidas graças a este efeito.
Como falamos no artigo sobre antioxidantes, pensa-se que estes poderão ser prejudiciais por impedir os benefícios que advêm da exposição a baixas doses de radicais livres. No entanto, não deixa de ser engraçado termos um mercado direccionado para os antioxidantes e outro mercado completamente oposto, onde se promove o stress oxidativo para ganhos em saúde…
Para além disso, existem outros possíveis mecanismos através dos quais a ozonoterapia poderá ser benéfica:
Melhora a circulação, melhora o metabolismo, induz uma ativação ligeira do sistema imune e libertação de fatores de crescimento, dá uma sensação de bem estar aos utilizadores devido à ativação dos sistemas neuroendócrinos e ativa sistemas neuroprotetores. Portanto, será um ótimo tratamento…vamos ver para o quê.
Que doenças supostamente trata?
Segundo uma das clínicas que promovem este tratamento, a ozonoterapia é a melhor coisinha que aconteceu à medicina nos últimos tempos:
Quando citamos um prémio Nobel estamos a apelar à falácia da autoridade, principalmente quando não existe nenhum registo em que Enrico Fermi usou tais palavras, muito menos para descrever o ozono como tratamento válido para doenças no ser humano (pelo menos, não encontrei).
Segundo a sociedade portuguesa de ozonoterapia, não haverá doença que esta terapia não trate:
Aparelho Locomotor:
- Artrose (Anca, Joelho, Coluna Vertebral , etc. )
- Artrite Reumatóide e outras doenças auto-imunes
- Bursites e tendinites
- Fibromialgia Reumática
- Hérnia discal e conflitos discorradiculares
- Estenoses do canal
- Síndrome do túnel cárpico e outras neuropatias periféricas
- Tratamento local de processos sépticos (osteomielites)
Aparelho Cardiovascular:
- Varizes e úlceras varicosas
- Pé diabético
- Tromboflebites
- Escaras
- Arterioderosis (?!)
- Claudicação Intermitente
- Insuficiência Venosa e Linfedema
- Ruptura de capilares
- Cardiopatia isquémica
Aparelho Digestivo:
- Hepatites víricas (B e C)
- Colite ulcerosa
- Doença de Crohn
- Fístulas perineais
- Hemorróidas
- Proctites
- Ulceras gástricas
Medicina Estética e Dermatologia:
- Celulite
- Acne
- Eczemas
- Herpes Simplex e Zoster
- Micoses
- Queimaduras
- Cicatrizes
- Viríase cutânea (?!)
- Psoríase
- Mucosites
Neurologia:
- Cefaleia Vascular
- Depressão
- Dor de cabeça
- Doença de Parkinson
- Demência Senil
- Arteriosclerose cerebral
- Alzheimer
Ginecologia:
- Vulvovaginites de repetição
- Infecções génito-urinárias por vírus , fungos e bactérias
- Processos inflamatórios e abcessos da mama
- Complicações sépticas obstétricas e puerpérias
Oftalmologia:
- Glaucoma de ângulo aberto
- Neuropatia óptica
- Retinosis pigmentária
- Degeneração macular senil
Odontologia:
- Gengivites
- Branqueamento Dentário
- Tratamento de Cáries
Geriatria:
- Cansaço e fadiga crónica
- Perca de memória
Otorrinolaringologia:
- Amigdalite crónica
- Faringite infecciosa
- Síndrome vestíbulococlear periférico